sexta-feira, 4 de setembro de 2009

São Paulo Restaurant Week - Inverno 2009

Dita o site oficial de tal evento:
“São Paulo é reconhecida internacionalmente pela sua gastronomia e por abrigar excelentes restaurantes nos quais se pode apreciar o melhor da culinária mundial. O Restaurant Week, que acontece entre 31 de agosto a 13 de setembro, vai mostrar o porquê. A 5a edição paulistana do evento que chega prometendo superar as mais positivas expectativas do público e proprietários de restaurantes.”

Na senda do post anterior, no qual deambulei por entre os mapas cartográficos das paixões humanas e dos singelos prazeres da vida, confidencio na presente sede, a minha confessa apetência pela boa gastronomia, convenientemente apreciada num cenário adequado e propício, aprazível e aconchegante, preferencialmente a dois, convidando-se ainda a companhia silenciosa de um bom e exclusivo vinho.
Depois de tantas e boas experiências nesta cidade, algumas profunda e agradavelmente enlevadoras, arrebatando delicadamente os sentidos, decidi-me, acompanhado, a experimentar o culto dos prazeres da mesa, sob a égide deste particular e tão propalado evento.

A título de experiência introdutória, por referência dedicada de amigos em comum, eu e a minha conviva, optamos pelo Restaurante Balneário das Pedras, sito na Rua Lisboa e nas proximidades da dantesca Avenida Rebouças.
Chegamos por volta das 22h30 e na companhia simpática da atendente, fomos imediatamente introduzidos ao agitado espaço, atravessando inicialmente uma sensaborana antecâmara, contígua a uma espécie de lounge, escuro e abraçado por paredes forradas com tecido vermelho; em seguida, fomos profissionalmente guiados através de um salão pequeno, forrado com alguns quadros e gravuras, até que finalmente, no espaço que corresponderia ao antigo quintal da residência original, fomos conduzidos até ao fundo dos fundos dos fundos, localização que eu depreeendi ser a inocente escolha dos proprietários, para a “exclusiva celebração” do evento aqui em apreço, como elemento diferenciador e notoriamente descriminador, entre o público do programa e os demais e “normais” clientes da casa.

Depois de devidamente sentados, chegou-nos às mãos uma amostra de cardápio, ao que tudo indica, próprio do evento, visualmente desagradável e negligentemente sujo, com as competentes opções de escolha, tal como se seguem:

"Entrada
Mix de Cogumelo com brie grelhados
ou
Carpaccio de salmão com dill e pinolli
Prato principal
Robalo fresco ao molho de limão ciciliano
ou
Gnocchi com molho funghi seco
ou
Filet Mignon em crosta de amêndoas
Sobremesa
Sopa de frutas vermelhas
ou
Quinteto de chocolate"

Em momento cronológico quase simultâneo, principiou a desenrolar-se uma tragicomédia de forma alguma expectável, com contornos polvilhados tanto por elementos do verdadeiro absurdo, quanto do genuinamente grotesco, sendo que os actores principiais de tal trama, afincadamente encarnavam os papeis dos dois funcionários adstritos ao grupo de mesas em que nos encontrávamos, porventura contratados num qualquer teste para o casting de uma eventual paródia.

No tocante aos pratos, os mesmos, pura e simplesmente, não nos deixaram qualquer saudade. Não agradaram a vista e muito menos o expectante paladar.

Não me vou demorar muito na descrição dos episódios lamentáveis a que fomos sujeitos, indiscutivelmente tradutores de um veemente convite formulado pela casa, a jamais aventarmos sequer a hipótese, de alguma vez retornarmos a tais dependências.
A ementa de desfuncionalidades amadoras e caricatas, foi vasta, abrangendo:
  • O verter consecutivamente do vinho, sobre a toalha da mesa, sempre que o mesmo era servido; 
  • A confusão reiterada entre os pedidos da nossa mesa e os solicitados pelas mesas vizinhas; 
  • O quererem levantar os pratos da mesa, sem que a totalidade dos clientes tivesse terminado a refeição; 
  • A constante falta de educação de alguns elementos da equipe do estabelecimento;
  • A ausência total de noção do préstimo de um adequado serviço;
Etc., e etc.

Parabenizo o restaurante em causa, pela lição eficaz e assertiva com que nos brindou, relativamente à polémica temática:
Como perder clientes irremediavelmente, transformando toda a rede social dos mesmos, em quase certos ex-futuros clientes.

Aproveito para oportunamente citar a fadista Mariza, quando melodiosamente canta os seguintes versos da canção A Chuva:
"As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades".

Se o anterior restaurante (Rôti) que figurava na mesma localização do Balneário das Pedras, me deixou em tempos, alguns laivos de saudade, o seu sucessor, nos antípodas, apenas me agraciou com desagrado e irritação.

Ricardo

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