terça-feira, 1 de setembro de 2009

O Início

Caríssimo(s) leitor(es),

Eis que o presente e sucinto relato, consubstancia um fato inédito na minha vida, vulgo, a inauguração sem pompa e qualquer circunstância, da minha primeira incursão no vasto e impiedoso território da escrita, sob a forma de um inevitável jogo de letras e palavras, difundido através desta modernice tão em voga, simples e vulgarmente apelidada de blog.
Nem sei por que me decidi a fazê-lo, de entre a profusão de razões constantes no imenso cardápio das justificativas para abraçar esta forma de comunicação (ou de monólogo), tradutora da nossa atual sociedade, atriz em constante mutação num admirável mundo novo agitado por uma volatilidade acelerada de acontecimentos, indubitavelmente desafiante, mas cada vez mais exigente para com todos os seus atores, independentemente do cenário em que nos movemos e das nossas particulares áreas de atuação.
Talvez encare o presente blog, como alvo catártico da minha necessidade em relaxar do agito do quotidiano, ou então, como mero e fiel depositário de fragmentos da minha existência, quais fotos bolorentas jogadas e esquecidas nas arrecadações de nossas casas, sob a forma de escritos presos a uma miríade de nostálgicas recordações. Apenas o futuro o dirá, recorrendo ao seu frívolo e objetivo julgamento.
Além de Crônicas In(Oportunas), pensei em apelidar este espaço de Crônicas (In)Sinceras, uma vez que jamais me preocuparei nas futuras postagens, em escrever relatos sentidos e/ou fiéis para com a minha psique, formação, educação, cultura e reais pensamentos.

Talvez deva explicitar o porquê do Um Estrangeiro em Sampa; a título de sucinto enquadramento teórico e contextual. Uma vez que não é característica pessoal minha, a publicitação das minhas vivências do foro eminentemente pessoal, direi apenas que sou nacional de Portugal, vivendo atualmente em São Paulo, em coerência e no respeito pela minha paixão à primeira vista, por essa grande cidade, babilônia desafiadora e multifacetada, incoerentemente genuína no seio do vasto hospício, que é este simpático globo terrestre. A este respeito ainda, costumo responder a quem me indaga sobre as profundas motivações conducentes a esta minha escolha pessoal, com uma citação da obra o Rio das Flores, desse algo surpreendente escritor, Miguel Sousa Tavares:
“Há decisões que se tomam e que se lamentam a vida toda e há decisões que se amarga o resto da vida não ter tomado. E há ainda ocasiões em que uma decisão menor, quase banal, acaba por se transformar, por força do destino, numa decisão imensa, que não se buscava, mas que vem ter connosco, mudando para sempre os dias que se imaginava ter pela frente. Às vezes, são estes golpes do destino que se substituem à nossa vontade paralisada, forçando a ruptura que temíamos, quebrando a segurança morta em que habitávamos e abrindo as portas do desconhecido de que fugíamos, mas que em tanto nos atraía."

Fica já esclarecido, atenta a minha aludida menção ao hospício terrestre, que não acredito nas bondades e qualidades inatas da raça humana. Deve-se tal, muito resumidamente, à minha crença na intuída percepção de sermos todos peões num jogo zoológico vastíssimo, que não se afasta nas suas regras, dos mais elementares ditames do mundo animal, atinentes ao instinto básico de sobrevivência e à evidência dicotómica da realidade mandar/ser mandado. Como tal, pouco espero dos seres humanos que me rodeiam, uma vez que não posso, nem desejo, procurar controlar as suas naturezas inatamente imprevisíveis. Tal não revela desencanto, apenas uma assunção pragmática, directamente relacionada com as complexidades do desafiante jogo de tabuleiro cósmico, onde quotidianamente rolamos os dados da nossa vida. Só sei que, sempre que se cruza nos nossos insondáveis caminhos, alguém realmente extraordinário, para além daquelas pessoas que mais estimamos e consideramos, maior é a admiração por tal pessoa, por revelar uma rara especialidade e unicidade, advinda do não enquadramento de tal ocorrência, no quadro sensaborão da realidade composta pelo comum e pelo expectável. Tal raciocínio, não se aplica apenas a seres humanos, mas também a cenários e realidades físicas, comparáveis a oásis reverberantes e frondosos, com o qual inauditamente nos deparamos ao longo das nossas odisséias pessoais, travessias imponderáveis do vasto seio (predominantemente) desértico da Humanidade.

Bem, falta-me já a paciência para continuar tão desconexo artigo, tendo o mesmo cabalmente cumprido a missão de abnegado desbloqueador da inércia em procurar trilhar os caminhos da escrita.

Ricardo

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